Manifesto - Slow Wood Sr- Piero Calò

Manifesto "Slow Wood"




INTRODUÇÃO





Esta idéia nasceu quando eu li o primeiro artigo que descrevia um movimento gastronômico denominado “slow food” que se contrapunha ao “fast food”. Achei que o conceito seria aplicável a muitas coisas , inclusive aos processos artesanais .



Nas atividades artesanais , nos deparamos com varias questões a serem discutidas e que necessitam um olhar atento para que sejam resolvidas da melhor maneira possivel.



Uma das grandes questões é o desaparecimento dos verdadeiros artesãos , em parte isso se deve ao alto nível de automação das grandes e médias industrias , as quais necessitam cada vez menos de mão de obra especializada , necessitando somente de poucos maquinistas .



Este evento é comum a todos os ramos de atividade.



Este fato nos leva a pelo menos duas conclusões : a primeira é que teremos cada vez mais desemprego e a conseqüente perda de consumidores e a segunda é que estamos perdendo o conhecimento de como fazer e são pouquíssimas as pessoas que ainda estão em condições de transmitir estes conhecimentos .



Para os artífices da madeira , outra grande questão com que nos defrontamos hoje é a escassez de recursos naturais e uma demanda crescente dos mesmos .



Para enfrentarmos esta questão de maneira racional temos como saída a diminuição do número de pessoas no planeta (o que significa níveis de crescimento populacional a taxas decrescentes) ou o aumento da durabilidade dos bens elaborados a partir destes recursos naturais.



Controlarmos a taxa de natalidade seria a melhor saída em longo prazo , entretanto, nos países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, esta questão me parece estar longe de ser contemplada pelos governos e por alguns segmentos importantes da sociedade .



Assim sendo , a solução que proponho é diminuir a demanda , aumentando a qualidade , com o uso intensivo da mão de obra excedente das grandes indústrias e com a abertura de “corporações de oficio “ revisitadas sob um olhar contemporâneo .



Historicamente , as sociedades dos artesãos tinham como objetivo congregar profissionais de uma determinada área ou ofício com o objetivo comum de vender a sua produção ou os segredos do conhecimento . As corporações de oficio nasceram no final do séc.XII e tiveram seu auge por volta do séc.XIV. Seu declínio deveu-se a não haver mais segredos a serem guardados, mas sim , privilégios .



As associações de artesãos baseavam-se num antigo método pedagógico que ensinava a produzir as coisas de uma determinada maneira e que ao mesmo tempo transmitia valores humanos e morais no âmbito privado e público .



A corporação de oficio transmitia os ensinamentos a seus membros dando uma formação prática , moral e o senso de pertencer a um grupo social reconhecido. Aprendia-se fazendo , o que levou à criação de um segmento social profundamente culto que eram os artífices.



As corporações de oficio tinham grande valor educativo , ali as pessoas aprendiam pelo trabalho em contato com os mestres e pela associação da arte com seu sentido utilitário , assim o novo Mestre era a obra prima do velho Mestre e o conhecimento não se perdia e sim se multiplicava .



De certa maneira seria uma espécie de retrocesso estratégico com relação aos princípios estéticos e industriais ,para que no futuro possamos colher frutos mais doces dos que colhemos hoje , que são o desmatamento predatório , contrabando de produtos florestais , empobrecimento da qualidade estética , toxicidade e baixa qualidade dos materiais , desemprego,o empobrecimento do material humano ,etc.



Dentro deste panorama , “slow wood” procura o ponto onde nos “perdemos” para retomarmos uma nova estrada ,quem sabe mais humana e racional , com parâmetros de prazer estético mais apurados.



Este ensaio não é e não deve ser considerado como estático ou imutável ou mesmo pronto , mas apenas como um ponto de partida.